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Atriz protesta nua no 'Oscar da França' contra falta de apoio para cultura na pandemia

Uma atriz francesa protestou nua nesta sexta-feira (12/03) no Prêmio César — o mais importante do cinema francês — dominado por reivindicações para que o governo faça mais para apoiar a cultura durante a pandemia do coronavírus. Os cinemas estão fechados na França há mais de três meses. BBC News  Corinne Masiero foi convidada para apresentar o prêmio de melhor figurino na cerimônia, que foi realizada com distanciamento social dos convidados. Ela vestiu uma fantasia de pele de burro. No palco, ela tirou a pele, revelando um vestido manchado de sangue, antes de se despir. Corinne Masiero (à esquerda) foi convidada para a cerimônia para apresentar um prêmio... e assim foi como ela terminou | EPA No seu corpo, estava escrita a mensagem "Sem cultura, sem futuro". E apelando diretamente ao primeiro-ministro francês Jean Castex, Masiero tinha outro slogan escrito nas suas costas que dizia: "Devolva a arte, Jean". Outros atores e diretores fizeram exigências semelhantes dur

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Jaçanã reúne memórias do famoso 'Trem das Onze' e do 1º estúdio de cinema de SP

Bairro do extremo da Zona Norte de SP abriga museu com referências a Adoniran Barbosa e à estação do Trem da Cantareira.


Por Tatiana Santiago | G1 SP — São Paulo

Um pedaço de trilhos na movimentada Rua Benjamin Pereira é a lembrança que restou dos tempos áureos do Jaçanã, tradicional bairro da Zona Norte de São Paulo, eternizado pela música de Adoniran Barbosa.

Museu Memória do Jaçanã guarda memórias da época do Trem da Cantareira — Foto: Marcelo Brandt/G1
Museu Memória do Jaçanã guarda memórias da época do Trem da Cantareira — Foto: Marcelo Brandt/G1

Na entrada do Museu Memória do Jaçanã estão os trilhos dos tempos do Tramway da Cantareira ou Estrada de Ferro Cantareira, da São Paulo Railway, que ligava o Tamanduateí, na Região Central, à Serra da Cantareira, na Zona Norte. Após a incorporação da companhia à Estrada de Ferro Sorocabana, a linha foi expandida com um ramal que ia para a base aérea de Cumbica, em Guarulhos.

Na Praça Comendador Alberto de Sousa, o antigo chão de paralelepípedo remete ao período que abrigava a estação do Jaçanã, do famoso “Trem das Onze”. O lugar por onde passavam os trilhos da antiga estação foi ocupado por um parquinho de diversões móvel. Por lá, passaram artistas famosos que iam trabalhar na Companhia Cinematográfica Maristela como Mazzaropi, Grande Otelo, Procópio Ferreira e Tônia Carreiro.

O aposentado Orestes José da Silva, de 86 anos, lembra saudoso do passado. “Sinto muita saudade da época do Trem das Onze. Via sempre Adoniran Barbosa e outros artistas pelo bairro. Lembro dos piqueniques dentro do trem e que íamos trabalhar felizes, fazendo batucada”, conta ele, que fica todos os dias na praça.

Criado por Sylvio Bittencourt, o Museu do Jaçanã guarda a história do bairro. Quepes dos maquinistas, projetor do estúdio de cinema Maristela, o chapéu do Adoniran Barbosa, chapéu e roupa do Ernesto, que inspirou a música “Samba do Arnesto” de Adoniran, além da letra original da música, reprodução da locomotiva original, entre outras preciosidades.


Réplica da estação Jaçanã em miniatura faz parte do acervo do Museu Memória do Jaçanã — Foto: Fábio Tito/G1
Réplica da estação Jaçanã em miniatura faz parte do acervo do Museu Memória do Jaçanã — Foto: Fábio Tito/G1

Ao lado do museu, o imóvel que era usado como alojamento dos maquinistas mantém as características originais e hoje é usado como residência por familiares desses profissionais. A área, que pertence à União, foi concedida ao museu.

“A estação Uroguapira que depois vira Jaçanã estava localizada na praça. Há um motivo para a mudança de nome, tinha um estigma na região por conta das doenças transmissíveis, hanseníase e tuberculose, o bairro era uma região de fazendas e como recurso para agregar valor ao bairro que já estava sendo loteado e vendido pelos proprietários vira Jaçanã, que era a ave local”, afirmou a presidente do museu, Claudia Machado, de 53 anos.

Antes de receber o nome de Jaçanã, o bairro do extremo da Zona Norte de São Paulo, era conhecido como Uroguapira, pois imaginavam que havia ouro no local. Depois, quando notaram a ausência do metal precioso, foi chamado apenas de Guapira. Como havia um hospital de leprosos na região que hoje é o Hospital São Luiz Gonzaga, havia um preconceito contra as pessoas que ali moravam e, por isso, batizaram o nome do bairro como Jaçanã (ave abundante na região) para desvincular da imagem negativa.

A chegada do trem no Jaçanã levou à região crescimento econômico, social e cultural.


“O trem foi muito importante não só para o Jaçanã, mas para toda a Zona Norte de São Paulo. Quando o trem chegou, a população que já ocupava esse espaço, viu a possibilidade de melhorar a qualidade de vida. Ali era uma área totalmente rural, formada por chácaras e fazendas, e a população aumentou na década de 30 com o loteamento dos terrenos”, afirmou a historiadora Raíssa Campos Marcondes, mestranda que estuda a implantação do trem com o desenvolvimento local.

Com 148 anos de idade, o Jaçanã que já foi conhecido como polo cultural não prosperou como os moradores da região imaginavam e eles reivindicam por melhorias e investimentos públicos.

“É um bairro muito bom, mas precisa melhorar a infraestrutura. Jaçanã tem uma história e o bairro é antigo e precisa ser renovado”, disse o comerciante Edmar Araujó, de 69 anos.

Adoniran

Filho de imigrantes italianos, Adoniran Brabosa, nome artístico de João Rubinato, nasceu em Valinhos, no interior de São Paulo. Apesar de nunca ter morado no Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo, ele eternizou o bairro com a música "Trem das Onze", lançada em 1964.


Retrato de Adoniran Barbosa exposto no Museu Memória do Jaçanã, na Zona Norte — Foto: Fábio Tito/G1
Retrato de Adoniran Barbosa exposto no Museu Memória do Jaçanã, na Zona Norte — Foto: Fábio Tito/G1

No entanto, Adoniran tinha uma relação com o bairro, já que era nos estúdios de cinema Maristela que o músico e compositor atuava como ator de filmes e séries. Alguns moradores antigos da região ainda se lembram da presença frequente dele no bairro, sentado nos bancos das praças, e na estação de trem Jaçanã do Trem da Cantareira.

Seu primeiro sucesso foi "Saudosa Maloca". Ele também compôs "Tiro ao Álvaro" e "Abrigo de Vagabundo", entre outras canções.

Estúdio de Cinema

O Jaçanã foi ponto de encontro de artistas renomados que frequentavam o primeiro estúdio de cinema de São Paulo que fora instalado ali e fortaleceu a cultural na região. Batizado de Companhia Cinematográfica Maristela, o estúdio de cinema nasceu em 1949 após o sonho de Mário Audrá Junior, o Marinho, filho de uma rica família paulistana, do ramo da indústria têxtil, em se tornar um produtor de cinema.


Gravação na Companhia Cinematográfica Maristela, no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo — Foto: Reprodução Maristela Filmes
Gravação na Companhia Cinematográfica Maristela, no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo — Foto: Reprodução Maristela Filmes

“A Maristela tinha alojamentos e quando iam fazer noturnas [gravações à noite], as pessoas dormiam lá. Meu pai foi conversar com o governador Adhemar de Barros e pediu para prolongar o horário do funcionamento do trem até as 23h. Daí surgiu a música Trem das Onze de Adoniran Barbosa. Apesar do trem funcionar até mais tarde ninguém ia embora, ficavam ali na boemia”, contou Marco Audrá, filho de Mário Audrá Junior, criador da companhia.

Quem passa hoje pela área de 18 mil metros quadrados, que abriga a atual Rua Francisco Rodrigues, não imagina que foi um dos primeiros pontos culturais da cidade. Um muro de tijolos de um imóvel é o pouco que restou dos antigos estúdios. Um galpão na esquina com a Avenida Mendes da Rocha era um dos estúdios usados durante as gravações. Outro ponto, entre a Rua Doutor Nicolino Morena e a Rua Rodrigues Alves virou um conjunto residencial, o que era um investimento inovador para a época.

Entre os filmes produzidos pela Companhia, estão Presença de Anita (que deu origem à série homônima da Rede Globo), Meu Destino é Pecar (primeira adaptação de Nelson Rodrigues para o cinema), O Comprador de Fazendas, Mãos Sangrentas e a chanchada Pensão de Dona Stela, onde Adoniran Barbosa está presente com suas composições e também como ator.


Filme Mãos Sangrentas com Tonia Carrero e Arturo Cordova nos estúdios Maristela — Foto: Reprodução Maristela Filmes
Filme Mãos Sangrentas com Tonia Carrero e Arturo Cordova nos estúdios Maristela — Foto: Reprodução Maristela Filmes

O filme “O Comprador de Fazendas” foi filmado no Jaçanã e também utilizou como cenário a estação de trem.

Com filmes de baixo custo, a Companhia Maristela não investia em grandes produções. “A ideia era fazer dois ou três filmes por ano e alugar os estúdios para outras produtoras”, disse Audrá.


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