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Atriz protesta nua no 'Oscar da França' contra falta de apoio para cultura na pandemia

Uma atriz francesa protestou nua nesta sexta-feira (12/03) no Prêmio César — o mais importante do cinema francês — dominado por reivindicações para que o governo faça mais para apoiar a cultura durante a pandemia do coronavírus. Os cinemas estão fechados na França há mais de três meses. BBC News  Corinne Masiero foi convidada para apresentar o prêmio de melhor figurino na cerimônia, que foi realizada com distanciamento social dos convidados. Ela vestiu uma fantasia de pele de burro. No palco, ela tirou a pele, revelando um vestido manchado de sangue, antes de se despir. Corinne Masiero (à esquerda) foi convidada para a cerimônia para apresentar um prêmio... e assim foi como ela terminou | EPA No seu corpo, estava escrita a mensagem "Sem cultura, sem futuro". E apelando diretamente ao primeiro-ministro francês Jean Castex, Masiero tinha outro slogan escrito nas suas costas que dizia: "Devolva a arte, Jean". Outros atores e diretores fizeram exigências semelhantes dur

Tesouros da arte: Fotografias, pinturas e projetos

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Este livro encantador combina obras de arte deslumbrantes de várias partes do mundo com fantásticos projetos, que trarão muita inspiração a você! Inclui pinturas europeias famosas, delicadas impressões japonesas e máscaras africanas tradicionais. Cada obra é acompanhada por um projeto baseado nas ideias ou métodos utilizados pelos artistas.

Morador de rua poeta vai morar em apartamento com ajuda de alunos da USP

Gilberto Camporez lançou livro de poesias na última sexta-feira. Ele morava há 13 anos no Largo São Francisco.


Por Rafaela Putini* | G1

Quem quis um exemplar autografado do "Velha Calçada", livro que conta as experiências de Gilberto Camporez nas calçadas do Centro, teve que ficar em uma fila que ultrapassava a porta de uma das salas da Faculdade de Direito da USP no lançamento que aconteceu na noite da última sexta-feira (16). O evento significou um recomeço para o autor, que no sábado (17) deixou as ruas e foi para um apartamento que será sua casa a partir de agora.

Gilberto com o livro "Velha Calçada", que conta sua história vivendo nas ruas. (Foto: Celso Tavares/G1)
Gilberto com o livro "Velha Calçada", que conta sua história vivendo nas ruas. (Foto: Celso Tavares/G1)

O dinheiro para o aluguel veio de uma arrecadação feita pelos alunos da USP para publicar o livro e tirar Gilberto das ruas. Todo o dinheiro conseguido com as vendas dos exemplares será usado para que o poeta mantenha a nova casa até encontrar um emprego. Com a repercurssão do lançamento e não tendo mais que dormir nas calçadas, Gilberto diz que já se sente reintegrado à sociedade e que se sente, sobretudo, feliz.

13 anos no Largo São Francisco

Em 2005, com 17 anos, Gilberto, saiu do interior de São Paulo e chegou às calçadas do Centro da capital paulista, que se tornaram sua moradia na maior parte do tempo até hoje. Nas mesmas calçadas, durante uma festa universitária em 2015, ele conheceu alguns alunos da Faculdade de Direito da USP, que descobriram suas poesias e o convidaram para um recital que acontecia naquele momento.

Sem ensaiar, e com medo de vaias, Gilberto declamou os versos para um grupo grande de estudantes. “Eu estava todo sujo, de chinelo e pensei: logo eu, recitar uma poesia em um lugar tão bacana”, contou Gilberto, agora com 29 anos. Quando terminou de citar o último verso começaram os aplausos e os elogios. Ali se iniciava o projeto dos jovens com o poeta para publicar uma coletânea.

Desde esse dia, 20 jovens começaram a arrecadar dinheiro para a publicação, que foi editada por eles e que foi lançada em um auditório da USP São Francisco. No lançamento, alunos, pais e professores fizeram fila para conseguir um autógrafo e dar um abraço em Gilberto. No dia seguinte, o autor pegou a chave do novo apartamento.

Recomeços

A vinda para São Paulo foi uma busca por outras realidades, depois de ter problemas com drogas e de viver a infância e a adolescência em um ambiente familiar de brigas. Gilberto foi diretamente para as ruas, de onde conseguiu sair por alguns períodos. Teve empregos, de faxineiro e ajudante de cozinha, por exemplo. Em um deles chegou a ganhar um salário de mais de R$ 4 mil.

Nesse intervalo de tempo se reabilitou, teve casa, esposa e um filho, que hoje mora com a avó paterna. Depois de uma separação conturbada, há quatro anos, tinha voltado a viver nas ruas da Sé.

Começou a escrever para ajudar a lidar com as recaídas e com a depressão. Ele conta que foi preso injustamente duas vezes e teve seus pertences, entre eles cadernos com todas as suas criações, confiscados mais de uma vez. São materiais que ele nunca recuperou.

Publicar o livro, para o escritor, foi sinônimo de recomeço. Agora, tendo onde morar, ele espera conseguir um emprego, que ele conta que não conseguia pelo preconceito. Para o futuro, sonha em publicar mais livros, entre eles uma biografia, que quer que um dia vire filme.

Alunos da USP

Nos últimos meses, Antônio Cesar, de 21 anos, comandou um grupo de 20 voluntários responsáveis por viabilizar a publicação do livro "Velha Calçada". Na época que conheceu Gilberto, o jovem estudava no cursinho popular da universidade. Hoje, ele estuda economia.

Antônio andava com uma pasta de documentos, com planilhas de orçamento, arrecadação, custos e planejamento, tanto para o lançamento quanto para o processo de aluguel de um apartamento. Na outra, com a sacola de livros e camisetas que estavam à venda no evento. No sábado ele foi com o escritor ao novo apartamento para marcar o novo começo fora das ruas.

O estudante comprou os primeiros pacotes de trufas que Gilberto vendeu para começar a juntar o dinheiro necessário para imprimir os livros. “Eu vi ele recitando as poesias, posso dizer que até me apaixonei por algumas, e vi que era um trabalho que podia dar certo”, lembrou o jovem.

Gilberto fez questão de escrever no livro uma dedicatória para cada aluno que participou do processo. Sobre Antônio, redigiu que palavras são minúsculas se comparadas ao que tem por dentro para oferecer. O estudante reforça: “ele vai poder contar com a gente sempre”.

Velha Calçada (Gilberto Camporez)

"Velha calçada,Aqui me despeço depois de muito tempo.Confesso que vou sentir saudades,Pois foi você quem mais presenciou momentos ruins em minha vida.Lembra aquele dia em que eu não tinha onde dormir?Pois você deu um jeito e dormimos juntos.E aquele dia em que eu desmaiei por sentir fome?Então você me segurou e esperou até que a emergência chegasse.E depois que sai do hospital, você ainda me esperava.Obrigado, velha calçada!"

* Com supervisão de Paulo Guilherme

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